LENDAS E MITOS
A LENDÁRIA HISTÓRIA DE AMOR
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A lenda de Ardinga ou Ardínia – primorosamente contada por A. Correia: “Era uma vez... Uma das mais lindas histórias de mouras que se conta aconteceu dentro desta terra de Tabuaço. A moura chamava-se Ardinga ou Ardínia. Nascera num país do sul e viera menina para Lamego onde seu pai era rei. Foi há muito tempo, ao findar o séc. X. Os cristãos e os mouros batiam-se nestas fronteiras da Beira e do Douro mas Ardinga, quase menina, seguia de longe as histórias de guerra e os actos heróicos de um cavaleiro cristão! E foi então que no coração da menina nasceu o primeiro amor. Fugiu do castelo e andou, andou por caminhos que vieram dar ao ermitério de S. Pedro das Águias onde o monge Gelásio curava feridas de soldados. Ardinga falou ao frade do seu amor mas antes que um soldado levasse novas ao cavaleiro desta enamorada adolescente, o rei descobria o refúgio da filha que se fizera cristã. Não teve pena das lágrimas da:menina cujo corpo de virgem feriu de morte lançando-o sobre as água do rio. Mas Ardinga morrera antes de amor. O cavaleiro cristão apenas pôde chorar sobre o corpo morto de Ardinga que sepultou na margem do rio. E nunca mais procurou outro amor.
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A ESTÁTUA DE SÃO PEDRO
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Os primeiros monges de São Pedro das Águias pertenciam à Ordem Beneditina e não está claro exatamente a partir de que momento trocaram as vestes negras pelos hábitos brancos e práticas religiosas austeras, próprias da Ordem de Cister. Esta troca poderá ter ocorrido aquando da mudança para o novo local, ou mesmo de antemão. Fortemente ligados à terra, entre outras atividades, os monges foram responsáveis pela introdução da cultura da vinha, tal como fizeram noutras regiões.
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Ao longo dos séculos, o novo mosteiro de São Pedro das Águias entrou em grave declínio, ao ponto de levar os peregrinos a escrever sobre as condições chocantes que encontraram no século XVI. Como consequência do Concílio de Trento, o mosteiro foi completamente reconstruído no século XVII no novo estilo da moda, o barroco. Sob o patrocínio subsequente da rainha Maria Pia, o complexo religioso floresceu até à promulgação, em 1834, de legislação que aboliu e confiscou todos os mosteiros portugueses.
Em 1836, o mosteiro havia sido saqueado pela população local e parcialmente destruído por um incêndio. Pedras das ruínas foram usadas para construir algumas das estruturas que hoje podemos observar. Os poucos documentos e conteúdo restante foram vendidos ao desbarato alguns anos depois.
Algo que os atacantes foram incapazes de levar foi a estátua de São Pedro, que permanece no nicho da igreja até hoje. Reza a lenda que quando a multidão tentou removê-la, o chão começou a tremer. Este evento aterrorizante deu peso à noção de que nada escaparia intacto caso a imagem do santo fosse removida. Consequentemente, ficou em paz desde então.
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A MOURA DA PONTE DO FUMO
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Junto ao rio Távora, na Ponte do Fumo, há uma fraga a que o povo chama Fraga da Moura. Contavam os mais antigos que aquela ponte foi feita pelos mouros, numa só noite. Ao verem-se obrigados a fugir com a perseguição dos cristãos, os mouros deixaram para trás uma moura encantada. A tomar conta dos filhos - dizem.
Há quem já a tenha visto, de longe, a cantar.
Diz-se que da cinta para cima é uma mulher linda, de uma beleza nunca antes vista ou imaginada. Mas da cintura para baixo é uma serpente, e os filhos são como ela.
Para a ver só se for de longe, pois ela, se vir gente, esconde-se. O certo é que ninguém se atreve a ir lá para o meio das grandes fragas que lá existem e a nado também seria precisa grande coragem, pois há quem diga que ali existe um redemoinho de água e que, quem lá for, é chupado para os fundos do poço.
Criatura igual já foi vista, dizem, no Sabroso - chamam-na de mulher-cobra e aparece numa gruta que vai do Sabroso a Santa Leocádia.
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A EIRA ONDE AS BRUXAS SE VÃO ESFREGAR
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Na chamada Eira do Monte, em Paradela, diziam os mais antigos ser o lugar onde as bruxas se iam esfregar. Na altura, e falamos de tempos não muito remotos, diziam que haviam muitas bruxas mas eram incógnitas. Desconfiava-se desta ou daquela por uma atitude ou comportamento mais estranhos mas provas não havia.
Ora um dia, um homem disse para um amigo:
- Olha que a tua mulher é bruxa, é o que dizem por aí. Se fosse a ti ficava atento.
- Bruxa, a minha mulher? Nunca! Nem nunca ouvi tal coisa de ninguém.
- Claro que não ouviste, nem nunca to iam dizer. Digo-to eu porque sou teu amigo ee é para te avisar.
O homem, claro, ficou apreensivo e começou a tomar mais atenção aos hábitos da mulher. Certa noite, fingindo-se a dormir, deu conta de a mulher se levantar da cama e, sentada na cama, diante dele dizer:
Eu te benzo, belzebu
Com as fraldas do meu cu
Enquanto eu não vier
Não acordes tu!
Depois desta reza, vestiu-se e saiu.
Quando voltou, o marido ainda estava acordado e, ao vê-la despir para novamente se deitar, reparou que trazia o rabo todo queimado...
Ao outro dia comentou com o amigo:
É bruxa sim,
Agora já estou fiado
Olhei bem ela
E tem o cu todo queimado
Daí o povo começar a acreditar que as bruxas se iam esfregar na Eira do Monte.
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A LENDA DAS TRÊS COVINHAS
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Nos limites de Sendim, no caminho para a capelinha de Nossa Senhora do Bom Despacho, podemos encontrar ainda hoje o Cabeço das Três Covinhas. A população de Sendim denomina esta fraga como o "banquinho do Menino Jesus", enquanto a de Cabriz a chama de "assento do rei mouro".
Em Sendim crê-se que as três covas desenhadas na fraga são os bancos onde se sentaram Nossa Senhora, São José e o Menino Jesus quando por ali passaram. Realmente, dois deles são maiores que o outro, bem mais pequenino, que seria o do Menino. Ao lado, existe a banheira do Menino - uma cova onde o povo diz que era onde Nossa Senhora dava banho ao Menino.
Para Cabriz, a interpretação deste penedo é bem diferente: segundo a lenda, aqueles bancos gravados na rocha seria onde um rei mouro e a sua família se sentavam. O assento maior seria o do rei e era dali que governava as terras e dava ordens aos seus súbditos. A lenda também diz que naqueles cabeços está um grande tesouro que só será achado quando os penedos rebentarem...
Era ao banquinho do Menino que se costumava ir fazer a chamada novena dos meninos. Quando uma criança adoecia, os pais arranjavam nove crianças para fazerem uma novena à Senhora do Bom Despacho. Se o doente fosse um menino, iriam em procissão nove meninos, se fosse uma menina, iriam nove meninas. Em troca, cada um ganhava uma pequena esmola, fala-se de dois tostões nos tempos idos. A tradição ditava que cada uma das crianças saísse de sua casa indo em direcção ao banquinho do Menino. Ali chegados, cada um, na sua vez, devia ficar por alguns momento sentado no banquinho, de onde depois saía para dar lugar a outro, seguindo depois para a capelinha da Senhora do Bom Despacho, em procissão com os pais e os familiares da criança doente.
Em Cabriz, esta tradição tem uma pequena variância: a procissão das crianças era feita quando uma mulher grávida, sentindo aproximar-se o dia do parto, arranjava nove meninas, que não tivessem mais que dez anos, e com elas em procissão iria pedir protecção para a hora do parto à Nossa Senhora do Bom Despacho.
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A PROCISSÃO DAS ALMAS
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Sempre se ouviu dizer que à volta da Igreja Matriz de Tabuaço, em certas noites, saía uma procissão com luzes estranhas. Mas nem toda a gente a via, só algumas pessoas tinham o dom de a ver.
Conta-se que uma vez uma mulher já velhinha não tinha lumes em casa e, ao ver passar a procissão, pensando ser uma procissão comum, foi lá pedir que lhe dessem lume. Deram-lhe, então, uma vela para a mão, ao mesmo tempo que ouviu uma voz dizer:
- Quem vai, vai; quem está, está!
Pegou na vela, levou-a para casa e não se apagou! Meteu-a numa caixa, ainda acesa, e a vela nem fogo pegou à caixa...aquilo não era coisa deste mundo!
Também se conta, a propósito destas procissões, que um rapaz da Vila de Tabuaço, tendo perdido a mãe ainda criança, foi criado por uma tecedeira que vivia sozinha. O rapaz cresceu e tornou-se pedreiro. Todo o dinheiro que ganhava entregava à tecedeira para que lho guardasse. Certa altura conheceu uma rapariga e logo mostrou vontade de casar com ela mas primeiro queria construir uma casa para os dois. A tecedeira, que toda a vida lhe tinha guardado o dinheiro, morreu subitamente e ele nunca soube onde ela arrecadava o dinheiro. Foi ter com o padre responsável pela freguesia que o instruiu:
- À meia-noite, vais ao pé do adro da igreja, espera até veres passar uma procissão de velas e repara se a tecedeira lá vai. Assim que a vires, pergunta-lhe onde guardou ela o dinheiro.
O jovem pedreiro assim fez. Esperou, esperou, até que viu passar a dita procissão de que o senhor padre lhe falava. Aproximou-se das luzes que andavam em redor da igreja mas o medo foi tal que, todo arrepiado, acabou por fugir.
Voltou a ir falar com o senhor padre que o aconselhou a voltar ao pé da igreja, à meia-noite, e que olhasse bem, a tecedeira, tendo sido a última pessoa a morrer, o mais certo é que seguisse em último na dita procissão.
Desesperado o rapaz assim fez. E lá estava ele, à meia-noite. Reparou então que a última vela que passava era, de facto, a tecedeira. Chegou-se perto dela e perguntou-lhe onde deixou guardado o dinheiro.
- O dinheiro está atrás do tear. Aproveita e com ele manda rezar umas missas por minha alma.
Foi verificar e, realmente, o dinheiro lá estava, atrás do tear como a alma lho tinha dito.
Há quem diga que o rapaz podia ter ficado tolhido, que isto das procissões das almas não é para brincadeiras. Acredita-se que cada uma que lá vai anda a cumprir as suas penas e que ninguém se deve meter com elas.
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TRADIÇÕES DE SÃO JOÃO
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Tabuaço, terra de gente devota e afeiçoada à fé, também soube aliar a sua devoção à festa e à folia. Santa Bárbara, S. Torcato, Senhora dos Milagres, Santa Eufémia ou S. João são alguns dos muitos santos da devoção dos tabuacenses e habitantes do concelho.
O S. João, santo popular e, provavelmente, o mais folião do concelho, traz consigo alguns dos mais populares costumes. Conheça, entre outros, a tradição das favas, do ovo, o jogo do azevinho, dos nomes ou das alcachofras. (Tradição oral)
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A crença das favas
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Era costume, na noite de S. João, antes da meia-noite, as raparigas “casadoiras” colocarem três favas debaixo do travesseiro de dormir. As regras ditavam que uma fava devia estar inteira de pele, outra com a pele pela metade e a outra completamente despida (descascada). Passada a meia-noite, a rapariga havia de ir tirar a sua sorte. Pegava numa fava e assim se ditava a sua sina: se lhe calhasse a fava inteira de pele havia de casar rica, remediada ficava se a mão lhe tirasse a fava com a pele pela metade mas pobre havia de casar se à mão lhe viesse parar a fava despida.
A crença do Ovo
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Na noite de S. João, exactamente à meia-noite, pega-se num copo que há-de estar meio de água e para onde se parte um ovo.
A sina será vista antes do sol nascer mediante a transformação que o ovo sofreu: a forma de um barco ditará em sina uma viagem, se uma capela, um casamento, mas, se aparecer uma cruz, a sina será… a morte.
A crença do azevinho
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Em noite de S. João, chegada a meia-noite, corta-se um ramo de azevinho que se leva para casa. Na primeira oportunidade, passa-se o ramo de azevinho pela água do mar dizendo a seguinte lenga-lenga: Oh meu rico S. João, que nada me falte na vida, nem amor, nem felicidade, nem dinheiro.
S. João, dizem os mais crentes, há-de ouvir…
A sina dos nomes
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Em dia de S. João, antes que o sol nasça, o rapaz ou rapariga há-de ir a uma fonte buscar água. O primeiro nome de mulher ou de homem (tratando-se de rapaz ou rapariga) que ouvir será, o que o S. João lhe destinará para casar. Caso vá e volte da fonte e nenhum nome lhe soou, o S. João guarda para ele o celibato…
A crença da Alcachofra
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Na noite de S. João, ao saltar a fogueira com a alcachofra na mão, como aliás manda a tradição, esta há-de murchar. No entanto, se ao outro dia ela aparecer florida é sinal que alguém gosta dessa pessoa, embora ela não o saiba.
A crença do alguidar
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Em noite de S. João, enche-se com água um alguidar. Nele hão-de deitar-se pequenos papeis dobrados, onde se escreveram o nome de rapazes ou de raparigas, conforme o caso. Antes que o sol nasça verifica-se o alguidar. O papel que estiver desdobrado há-de ser o par que S. João lhe reserva para casar.
A crença do “fieito” (pequeno arbusto)
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À meia-noite, da noite de S. João, quem quiser saber a sua sina, irá colocar um lençol de linho por baixo de fieitos. Antes que o sol nasça, é quando se deverá conhecer a sina: se o lençol estiver com a flor dos fieitos, a pessoa há-de ser rica toda a vida.
A crença popular também diz que a única noite em que se pode ver a flor deste pequeno arbusto é, precisamente, na noite de S. João.
Rivalidade Fundo e Cimo de Vila
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Pelo S. João, faziam-se antigamente festejos populares e as tradicionais cascatas, muito concorridas pelo povo de cima e pelo povo de baixo. Cada um dos povos gostava de apresentar a melhor cascata e o melhor baile. Num ano, os do povo de baixo foram ao povo de cima e, como os viram a dormir, roubaram a cascata. Houve então pancadaria rija entre os dois povos.
Durante muitos anos deixaram de se fazer as cascatas em honra de S. João, sendo esta tradição resgatada há cerca de três anos pelo Rancho do Fundo de Vila, em Tabuaço. Desde então, é construída uma cascata no Fundo de Vila e uma outra no Cimo. Assim, se mantém a tradição da rivalidade entre os dois povos.
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A PROCISSÃO DAS LUZES NO SABROSO
Contam as pessoas de antigamente que de noite, às vezes já madrugada, ao passarem perto do Santuário de Nossa Senhora do Sabroso, conseguiam ver um carreiro de pequenas luzes, andando de volta da capela, num compasso muito certo. Também contam que as luzes, ao passarem junto da porta principal, faziam uma pequena vénia e logo depois voltavam a seguir, umas em procissão, outras desapareciam.
A explicação do povo aponta para o pagamento de promessas que ficaram por cumprir. Ao prometeram em vida e não tendo cumprido, as almas voltam depois para fazer penitência.
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AS CRUZES DE BOUÇÕES, S. DOMINGOS E CORREDOURA
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Por todo o concelho podemos ver cruzes, nichos ou pequenos sacrários. São designados de "alminhas" e evocam tragédias, vítimas de crimes de morte ou apenas promessas. Em Sendim, por exemplo, existem as cruzes de Boições e de S. Domingos. Desta última se diz que quando uma mulher pretendia engravidar se deitava ao pé daquela cruz.
Outra história interessante, também em Sendim, é a que explica a existência da cruz no cruzamento da Corredoura: diz o povo que morava na freguesia um rapaz, camponês, que namorava com uma rapariga de Vale de Penela. Como trabalhava nos campos, apenas a visitava aos Domingos, regressando a casa já tarde da noite.
Certo Domingo, em pleno inverno, já a noite tinha caído sobre a serra, o rapaz preparava-se para se fazer ao caminho, de regresso a Sendim. Os pais da rapariga bem o alertaram para que ficasse por Vale de Penela, pelo menos até amanhecer. Desvalorizando os receios dos futuros sogros, deitou-se a caminho. Assim que atravessou o rio Távora, apercebeu-se que era perseguido por uma alcateia. Acabou devorado pelos lobos, próximo do cruzamento da Corredoura, onde mais tarde foi erigida uma cruz de pedra a evocar esta tragédia.
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DOIS CÂNTAROS DE CHUMBO COM OIRO
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A sudoeste da povoação da Granjinha ficam os Castelinhos dos Cabriz onde, diz o povo, há tesouros que o livro de S. Cipriano localiza e descreve. Diz-se mesmo que à beira de um castanheiro, aí plantado precisamente para servir de marca, está uma fortuna: dois cântaros de chumbo com ouro. Também se acredita que na chamada Cova da Moura há um encanto tal que no dia de S. Pedro as mouras saem do seu esconderijo e vêm cá para fora pôr a roupa a secar.
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O MISTÉRIO DAS RELÍQUIAS DE S. BRÁS
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A população de Sendim e das aldeias vizinhas nutrem grande devoção por S. Brás. Deste santo existem as misteriosas relíquias conservadas, há séculos, num cofre que se encontra na Igreja Matriz de Sendim.
A tradição diz que este cofre foi selado por um bispo que levou a chave com ele para evitar que os mais fanáticos fossem tentados a cortar as relíquias e leva-las.
Na verdade, o povo acredita que tais relíquias são objectos do próprio santo, inclusive pedacinhos dos seus ossos, recolhidos quando martirizado. Assim, desde tempos imemoriais, ali acorrem inúmeros fiéis para apenas tocar no cofre do santo, uns com doenças, ou receando vir a tê-las, outros com grandes feridas, outros com rebanhos de cabras e ovelhas, na convicção de milagrosas curas para todos os males. Diz-se até que o próprio pão destinado aos doentes, ao ser tocado no cofre, fica benzido e com propriedades curativas, tornando-se incorruptível.
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O ROUBO DO SANTO ANTÃO
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Havia na Balsa, Lugar da freguesia de Desejosa, uma imagem de Santo Antão, protector dos animais. O certo é que, para desagrado e desespero da população, roubaram dali o santo. Cansados de procurar, recorreram ao abade que os aconselhou fazerem uma procissão a santo Antão para que ele aparecesse.
Durante o cortejo, cantavam:
Santo Antão da Balsa,
Onde estareis vós?
Nos meio das favas,
Perguntamos nós?
Tanto perguntaram às favas, em muita abundância no ano em que roubaram o santo, que o santo Antão foi descoberto, precisamente no meio das favas. Levaram-no, para a Igreja, onde o têm desde então.
É celebrado a 17 de Janeiro.
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A FRAGA DO LOBISOMEM
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A Fraga do Lobisomem fica em Tabuaço, quem vai em direcção ao Fradinho, mesmo em frente à quinta da Saínça. É um lugar de difícil acesso.
Os mais antigos ainda hoje contam que, há mais de 150 anos, apareceu por aqui um homem muito estranho que só andava de noite. Quando o viam, lá ia ele para os lados da tal fraga e quando lá chegava, desaparecia. Era, com certeza, dentro da fraga, que tinha uma grande cavidade no meio, que ele pernoitava.
Um dia o homem deixou de ser visto no povo e houve quem fosse à dita fraga para ver se o encontrava. Mas o certo é que do homem estranho e misterioso nem sinal. Apenas encontraram a medonha cavidade na rocha o que levou o povo a pensar que quem ali entrasse ou lá vivesse só podia ter um pacto com o diabo, dando-lhe o nome de fraga do lobisomem.
Rapazes cá da vila, hoje com oitenta e muitos anos, chegaram a lá entrar. Descrevem a entrada através de uma grande cavidade e há dentro da fraga um longo corredor que conduz a duas salas grandes, onde uma pessoa pode andar de pé. Alguns desses rapazes dizem mesmo que lá encontraram manjedouras em pedra, iguais àquelas onde os animais comiam e bebiam.
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A LENDA DA CABRA COM OLHOS DE GENTE
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Conta o povo que, ali perto dos Cabriz, junto ao rio Távora, um pastor viu, certo dia, uma cabrita que o olhava fixamente. A particularidade do animal é que parecia ter olhos de gente. Como a cabrita não fazia parte do seu rebanho nem sabia de onde ela tinha aparecido, numa tentativa de a afugentar, o pastor atira-lhe com uma pedra. Conforme lhe acertou, a cabrita desapareceu e o pastor nunca mais a viu.
O que se diz ainda hoje é que, ao acertar com a pedra na cabrita, o pastor quebrou-lhe o encanto e que a cabra mais não era que Ardínia, a princesa moura. O povo acredita que ainda hoje a sua alma anda por aqueles lados.
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A LENDA DA CASA DA MOURA
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Contam os mais velhos na Granja do Tedo que num grande rochedo, situado ao cimo do povo, existe um grande compartimento onde está uma moura encantada. Acredita-se que, aquando da partida dos mouros desta zona, ela teria ficado para guardar um tesouro que ainda hoje lá permanece, encantando, tal como a princesa.
O que o povo sabe e diz é que quem quiser ficar com o tesouro tem que desencantar primeiro a moura. A única forma é ir ao rochedo, à meia-noite em ponto. Ele abrir-se-á e o tesouro aparecerá! Mas isto tem que ser feito à meia-noite em ponto, caso contrário, a fraga fecha-se e a pessoa fica lá dentro, encantada, tal como o tesouro e a moura, e de lá nunca mais sairá.
E como ninguém a tanto se atreve, o tesouro lá continua e a sua guardiã também
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